| Morfologia da Gaita
As partes constituintes da Gaita: Em geral, são
quatro as partes principais da Gaita: o ponteiro (tubo melódico), o ronco
ou roncão (nota pedal, de som contínuo), o fole e o soprete
ou boquilha. Algumas gaitas, como a Highland Bagpipe, a Uillean Pipe, a Cornemuse
Bourbonnaise, etc. (ver imagens mais abaixo), têm, além do ronco, dois bordões tenores.
No final do século XIX, foi acrescentada à gaita galega um segundo bordão (a ronqueta,
afinada uma oitava acima do ronco e uma oitava abaixo da nota fundamental do ponteiro), e
um terceiro bordão (o chión, afinado na quinta da nota fundamental), que
conferem ao instrumento uma sonoridade característica. |
Não vamos deter-nos aqui sobre a polémica
gerada à volta desta nova estrutura da gaita galega. O que nos interessa, sobretudo, é
tentar dar uma descrição tão completa quanto possível do instrumento àqueles que não
o conhecem ou com o qual estão pouco familiarizados. Tomámos o exemplo da Gaita galega
por ser aquela que está mais próxima de nós e também por ser usada por muitos
gaiteiros portugueses. |
| O ponteiro:
pode dizer-se que é o elemento principal da gaita, já que é nele que soa a melodia. É
de secção cónica e as suas dimensões variam em função da tonalidade do mesmo, ou
seja, é mais longo para tonalidades graves e mais curto para tonalidades agudas. No
total, tem onze buracos: oito melódicos (sete na parte anterior e um atrás) que executam
as diferentes notas e três chamados "ouvidos". O ponteiro é posto em
comunicação com o fole através de uma bucha que também serve para proteger a palheta.
Em geral, é construído com madeiras nobres (buxo, pau-santo, pau-rosa, ébano,
macacaúba, etc.).
Sendo uma das partes mais frágeis e delicadas da gaita, há que manuseá-lo e tratá-lo
com esmero e cuidado, evitar o calor ou o frio excessivos, exposição longa ao sol, etc. |
| A palheta: é
construída com duas lâminas de cana bem seca atadas com fio no exterior de um pequeno
tubo de metal. Na parte mais estreita da palheta, acima do tubo metálico, um freio
permite a afinação fina das notas do ponteiro, alargando mais ou menos a abertura das
lâminas. A boa sonoridade da palheta depende fundamentalmente dessa abertura. Com a
passagem de ar entre as lâminas da palheta, estas começam a vibrar e produzem o som que
é depois modulado com os dedos no ponteiro.
As dimensões das palhetas variam segundo o ponteiro a que se destinam, sendo mais longas
para tonalidades graves e mais curtas para tonalidades agudas. Sendo uma peça
extremamente delicada e frágil, deverá haver o maior cuidado com tudo o que possa
danificá-la: pancadas ou quedas de qualquer tipo, humidade excessiva, etc. Dentro do
possível, deve ser mantida sempre com o mesmo grau de humidade e haver o maior cuidado ao
colocá-la ou retirá-la do ponteiro. |
| O fole: o elemento
mais singular da Gaita e que, no fundo, lhe dá o nome, já que provém do antigo suevo Gaits.
É feito de pele de cabrito, de ovelha ou de bezerro (e mesmo de cão) mas, muitas vezes,
de borracha. Há construtores que aplicam foles de pele sintética (como o Gortex)
o que, à partida, tem vantagens apreciáveis: além de impermeável ao ar, absorve a
humidade, é extremamente leve e maleável e de duração praticamente ilimitada. Sabemos
que também aqui se estabeleceu alguma polémica, mas, onde todos parecem estar de acordo,
é na rejeição do fole de borracha, que, além de não absorver a humidade, é pesado e
incómodo, não possibilita um tempero correcto (e, portanto, a estabilidade na
afinação) e é extremamente prejudicial no que diz respeito à conservação das
madeiras.
Pode dizer-se que é no fole e no seu tempero (maior ou menor pressão do braço e
quantidade de ar insuflada) que reside um dos maiores segredos da Gaita. Por excesso ou
por defeito, a pressão do ar altera as notas do ponteiro e dos bordões, em especial as
notas alteradas, pelo que o gaiteiro deverá ter o cuidado de se ouvir a si mesmo quando
toca. |
| O soprete (ou boquilha):
Elemento que serve para introduzir ar no fole. Na sua parte inferior, uma válvula simples
de couro ou de borracha impede que o ar insuflado se escape. É montado numa bucha ligada
à parte superior do fole numa posição voltada para a boca do gaiteiro. |
| O ronco:
o bordão maior da gaita. É constituído por três peças: a prima (peça
inferior, onde é montada uma palheta simples, isto é, de uma só lâmina vibratória), o
tércio (peça intermédia) e a copa (peça superior por onde se escapa
o som e cuja extremidade lhe dá o nome). As três peças encaixam umas nas outras, e, ao
variar o comprimento do ronco, obtem-se a afinação correcta (duas oitavas abaixo da nota
fundamental do ponteiro).
Pode ser ornamentado com anéis metálicos (em geral, de alpaca ou de prata), de chifre de
animal (ou de plástico, nos casos das gaitas de menor preço). É costume atar-se uma
franja entre a prima e a copa e uma ou mais borlas no tércio, o que, naturalmente, lhe
confere uma melhor estética. |
| A ronqueta:
De construção semelhante ao ronco, mas constituída apenas por duas partes, prima
e copa. Afina uma oitava abaixo da nota fundamental do ponteiro e uma oitava
acima da do ronco. Ornamenta-se normalmente com uma borla ou com uma pequena franja
semelhante à do ronco. |
| O chión:
não se conhece uma palavra em português para denominar esta parte da Gaita, pelo que
usamos o termo galego. É constituído também por uma prima e uma copa
e afina na quinta da nota fundamental do ponteiro (por exemplo,para um ponteiro em Dó, o
chión afina em Sol). No espigo é montada uma palheta simples, mas há gaiteiros que
preferem a palheta dupla (igual à do ponteiro).
Em geral, este pequeno bordão é usado quando o gaiteiro toca como solista. |
| As palhetas: Na
imagem, as palhetas simples (palhões) do ronco, da ronqueta e do chión e, no canto
inferior esquerdo, a palheta dupla do ponteiro. São geralmente construídos com cana, mas
também há palhões de plástico. Há quem os construa com tubo de plástico e palheta
metálica, mas, sendo muito sensíveis à passagem de ar, torna-se difícil ou quase
impossível executar os cortes de som que são típicos em algumas melodias.
Embora possam parecer peças rudimentares, a sua construção exige muita atenção e
cuidados escrupulosos. Realizado por: Associação
Lelia Doura
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