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Galandum Galundaina e a tradição de Miranda - FNAC em Novembro

Sábado, dia 13 de Novembro na FNAC Norte está previsto o lançamento do livro Fonte d'Aldeia, de Rui Lobo, um conjunto de fotografias a preto e branco das terras de Miranda. O lançamento será acompanhado pelo concerto do grupo Galandum Galundaina, que irá fazer desfilar no Forum os trajes, os instrumentos e a tradição oral Mirandesa.

A prosito da edição deste livro e da actuação de Galandum Galundaina publicamos dois artigos sobre Miranda, a passagem do Mirandês a língua oficial e o reaparecimento da Gaita-de-Foles das terras de Miranda.

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Passagem do Mirandês a Língua Oficial
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O Renascimento da Gaita-de-Foles portuguesa
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Passagem do Mirandês a Língua Oficial

Fonte: Jornal Público (Fernando Magalhães) - www.público.pt

O projecto de lei do socialista Júlio Meirinho visa reconhecer oficialmente a existência da língua mirandesa, cujas origens são anteriores à nacionalidade, deverá ser conhecido como língua oficial em Portugal. O ensino na escola e a possibilidade de a administração pública elaborar documentos e fazer atendimento em mirandês são alguns dos pontos desta lei.

O mirandês é falado por cerca de 15 mil pessoas numa "área de aproximadamente 500 quilómetros quadrados, a sudeste do distrito de Bragança, ao longo da fronteira com a Espanha, abrangendo o concelho de Miranda do Douro e uma parte do Vimioso", escreve Júlio Meirinho, natural daquela região, na fundamentação do projecto de lei.

Nem português nem castelhano, nem sequer uma mistura dos dois, o mirandês é uma derivação do asturo-leonês, vestígio histórico dos tempos anteriores à fundação nacional, quando aquela região fazia parte do Reino de Leão. O isolamento do resto do país e o facto de não pertencer a Espanha permitiu a sobrevivência do mirandês, quando o castelhano e o português se impuseram como as línguas dominantes.

"Embora o mirandês tenha evoluído de uma forma própria, é evidente a sua filiação no asturo-leonês", que ensina mirandês na Escola EB2 de Miranda do Douro.

Foi Leite de Vasconcelos que revelou oficialmente a existência do mirandês, em 1882, e que fez os primeiros estudos sobre esta língua. Mas o falar de Miranda permaneceu envergonhado - "a língua do campo, do lar e do amor", como dizia Leite de Vasconcelos – durante muitos anos.

O "chaco" e o "fidalgo"

Na região, só as gentes das aldeias o continuaram a falar, enquanto em Miranda do Douro, a sede do concelho, se adoptava a "língua fidalga" (o português). O mirandês era o "chaco" (lê-se tch), palavra associada "a uma coisa baixa, à vergonha", explica Júlio Meirinho.

Mas sempre houve quem lutasse pela afirmação das populações da Terra de Miranda, reclamando o reconhecimento oficial de uma língua que hoje continua a ser usada pelos habitantes de aldeias como Fonte de Aldeia, Duas Igrejas, Freixiosa, Vila Chã ou Palaçoulo.

No ano lectivo de 1985/86, um despacho do Ministério da Educação autorizou "a inclusão, a título facultativo, no plano curricular do 5º ano de escolaridade, da disciplina de língua mirandesa". Mas não há programa oficial, nem material didáctico e o ensino foi completamente entregue ao professor Domingos Raposo. Com a aprovação deste projecto de lei, no entanto, "é reconhecido o direito da criança à aprendizagem do mirandês nas escolas do município de Miranda do Douro. No ano lectivo passado, 40 dos 86 alunos da Escola EB2 de Miranda do Douro, dos 5º e 6º anos, estavam matriculados na disciplina."

"Eiterna i nobre hardança"

"Traz os Montes", da cantora Né Ladeiras, natural de Trás-os-Montes, levou o conhecimento do mirandês ao grande público. "Perlimpinchim" é um exemplo de canção de embalar, mas cujos puristas franzem o nariz. Contudo é inegável a contribuição deste trabalho para a divulgação de uma língua que a própria União Europeia reconhece, ao incluí-la numa lista de outras em extinção. O mirandês ocupa o 34º lugar num "ranking" de 48, integrando o grupo das que se encontram em maior risco de desaparecimento.

A "lhêngua" mirandesa, profundamente enraizada na vivência rural das populações do planalto mirandês, inclui-se na antiga comunidade linguistica das "hablas lionesas" (falas lionesas), descendentes do latim popular mas assimilou no seu léxico elementos do galego, do castelhano e do português, possuindo embora uma terminologia e fonética próprias, carregadas de musicalidade. Como escreveu o Padre Mourinho: "Ah! Fala nuôssa i siêmpre biba/ La mais rica, eiterna i nobre hardança/ Qu'na beisos de criança/ Me dórun cul pan negro/ Mius pais í mius abós/ Falai-la, mius armanos./Guardai-la!.../ Stimai-la! .../Amai-la!.../ Fazei-la bibir an bós!.../ Pus s'eilha se bai morrendo/ Nun ajudeis a anterrá-la."

A sobrevivência desta língua dependerá do modo como as novas gerações souberem acrescentar as suas próprias vivências às dos seus antepassados; do cultivo de uma literatura mirandesa e da perpetuação dos elos que a unem à música. Questão complexa que levanta dificuldades e polémicas de vária ordem pois são as populações que renegam as origens (e consequentemente a sua língua, de que muitos se envergonham), e abandonam as aldeias. Há também o problema dos dialectos secundários: a "lhêngua" que se fala em Sendim é diferente da que se fala em Fonte de Aldeia, distando as duas localidades meia dúzia de quilómetros.

Convenção Ortográfica

Por este motivo, um grupo de investigadores universitários da área da linguistica - como Manuela Barros Ferreira, Ivo de Castro e Rita Marquilhas, da Faculdade de Letras de Lisboa, Cristina Martins da Universidade de Coimbra, António Bárbolo Alves, da Universidade do Minho, e Domingos Raposo - elaborou já uma Convenção Ortográfica da língua mirandesa.

Sendo inquestionável a importância de personalidades como as do Padre Mourinho, falecido em 1995, ou, presentemente, de Domingos Raposo, na recolha, estudo e preservação de espécimes linguísticos arcaicos, não será menos importante a forma como os mais novos souberem revificar os alicerces, acrescentando novos termos e novas sonoridades ao mirandês original. (Texto adaptado a partir de uma notícia do Jornal Públco) Voltar ao Topo

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O Renascimento da Gaita-de-Foles portuguesa

Texto adaptado a partir de uma notícia do Jornal Público

No contexto do festival Rezosa 98, em Fonte de Aldeia, onde decorreram várias conferências sobre a língua e cultura mirandesas, debateram-se questões como a evolução da gaita-de-foles de Miranda, que sofre um processo paralelo ao da língua. Surgem novos executantes, sinal de vitalidade mas também de alguma preocupação, caso não seja possível chegar a consensos e estrados comuns. Existe a necessidade de escolas de construção e ensino de gaita-de-foles pois, por mais "genuínas" que sejam as técnicas , é impensável a prática de qualquer tipo de ensino sem um modelo-padrão.

"Temperadas" ou "destemperadas", terão as gaitas-de-foles da região de ser afinadas e construídas todas da mesma maneira, caso contrário continuará a ouvir-se a velha queixa de que "cada gaita mirandesa só afina consigo própria".

Pela primeira vez, duas gaitas, obedecendo aos mesmos padrões de fabrico, provaram que podem afinar uma com a outra. Esse momento histórico aconteceu em Fonte de Aldeia, quando dois jovens gaiteiros- Abílio Topa, da Associação Galandum Galundaina, e Paulo Preto, da Mirai que Alforjas -, tocaram em uníssono os tradicionais "lhaços" e "passa cailles" (ou "passa calhes"), em dois modelos criados pelo também jovem construtor José Preto.

À noite, ao redor da fogueira, saboreada a suculenta posta mirandesa, os gaiteiros mais velhos tocaram um de cada vez, acompanhados pelos bombos e caixas de guerra da praxe. Nascimento Raposo, Manuel Paulo Martins, Aureliano Cristal Ribeiro, José Maria Fernandes e António Joaquim Alves fizeram ouvir o fundo dos tempos, cantando a imutabilidade da vida e da Natureza de uma Terra onde são ainda a devoção e a magia a marcar o ritmo do destino.

A sessão foi gravada para posterior edição em disco pela editora e distribuidora Sons da Terra, gente "fidalga" (como chamam em Miranda a quem apenas fala português...) à qual se deve para já a colectânea "Modas de Dúes Ëigreijas", de Miranda do Douro, incluída na série Cantos Tradicionais, e um disco do gaiteiro Ezequiel dos Santos, de Vale Martinho, Mirandela, na série Gaiteiros Tradicionais. Será editado um álbum de "Modas, Lhaços e Rimances", cantados por Clementina Rosa Afonso, de Freixiosa. Ou Frexenosa, para sermos precisos...

 

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