Gaiteiros de LisboaNovembro em Almada - Forum Romeu Correia Dias 26 e 27
às 21:30h e dia 28 às 16h
Porquê "Gaiteiros de Lisboa"?
"Porquê "Gaiteiros de Lisboa" ?". Talvez porque em Lisboa não há
gaiteiros ... E daí, talvez responder afirmativamente. Gaiteiros, porque em bom
português "gaita" tem um bom punhado de significados diferentes (sim também
esse). As nossas "gaitas" são tudo aquilo em que pegamos à procura do SOM,
reinventando sanfonas, buscando harmonias até aqui desconhecidas nas nossas gargantas,
retesando peles, procurando percutir o que outros pisam, desafinando gaitas de foles, mas
afinando tubos de electricidade.
Veneramos o gaiteiro de Trás-os-Montes que vive tocando e bebendo enquanto outros lhe
tratam das terras (bons tempos!), os virtuosos gaiteiros galegos, escoceses e irlandeses e
ainda mais outros, que nos tempos conturbados que vivemos, tentam devolver a gaita de
foles ao seu habitat natural - o convívio entre as gentes. São como santos no nosso
altar musical. Sabemos, no entanto, que o caminho que vamos traçando nunca nos levará
àquela santidade.
Tentando encontrar um laço comum entre todos os elementos do grupo, descobrimos que
todos tiveram experiências de animação musical. Talvez daí venha esta procura
incessante de novidade, de mostrar aos outros não o que a música é, mas o que pode ser
se cada um de nós se puser a pensar de uma forma criativa. Então chegará o dia em que
não ficaremos surpreendidos quando descobrirmos que o instrumento de percussão que
melhor liga com aquela melodia de que tanto gostamos é a ... mesa da cozinha.
E é por aqui que aparece a nossa ligação à música tradicional. Nos passeios que
alguns de nós fizeram por esse país fora gravando e ouvindo vozes e instrumentos (não
temos a veleidade de lhes chamar recolhas), aprendemos que em algumas sociedades rurais a
música já foi isto, algo mais que premir o botão da mini aparelhagem comprada no
hipermercado mais próximo. Lembrando as pinhas, as garrafas com garfo, as violas feitas
de latas de azeite, os nossos instrumentos não nos parecem tão estranhos como isso.
Foi colhendo todas estas experiências que chegámos ao ponto de nos sentirmos aptos a
recriar e não copiar, como assumidamente urbanos que somos, verificando que quanto mais
aprofundamos o nosso conhecimento das melodias e ritmos tradicionais, mais modernas e
originais elas nos soam.
Por vezes damos connosco a pôr em causa esta constante busca de ideias e
irreverências e a quantidade de informação por unidade de tempo contida na nossa
música. Alguns poderão dizer que naquele tema ou no outro passámos demasiado
rapidamente por cima de uma boa ideia que podia ter sido melhor explorada. São riscos que
corre quem tem toda a música como horizonte e partiu já há alguns anos em busca do
desconhecido.