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GRUPO
DE ETNOGRAFIA E FOLCLORE DA ACADEMIA DE COIMBRA
Portugal
O G.E.F.A.C.
apareceu em 1966 como grupo autónomo da Associação Académica de Coimbra, composto na
sua grande maioria por estudantes universitários.
Desde então para cá tem desenvolvido um meritoso trabalho na área da
etnografia, procedendo à recolha, tratamento e divulgação das variadas manifestações
tradicionais portuguesas.
É neste ambito que se inserem as Jornadas de Cultura Popular que decorrem em Coimbra
durante três semanas e onde são apresentadas a música, a dança, o canto, o teatro, a
gastronomia, o artesanato portugueses. Destas jornadas fazem também parte exposições,
colóquios e actuações ao vivo.
O G.E.F.A.C. possui já um importante arquivo bibliotecário, sonoro e cinematográfico
fruto sobretudo do seu trabalho de campo, tendo já editado em livro algumas dessas
recolhas e vai este ano avançar com o projecto de uma escola de música.
Os espectáculos que tem apresentado são sempre multidisciplinares, pois neles estão
presentes o canto, a dança e a performance teatral, as três componentes que segundo o
G.E.F.A.C. permitem a constituição de uma imagem global da cultura nacional.
O Eterno Compromisso sobre as dicotomias profano/sagrado, natureza/cultura,
trabalho/festa; A Vida Alegre do Brioso João Soldado,uma das quatro peças de
teatro popular mirandês que o grupo recolheu na década de 70, são os mais recentes
espectáculos do G.E.F.A.C. que estreará neste ano As Sete Partidas sobre as
sete figuras míticas que povoam a imagética popular portuguesa.
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HAMZA EL DIN
Sudão
Hamza El Din
nasceu em 1929 na Núbia, uma região situada entre o sul do Egipto e o norte do Sudão,
donde provêm as primeiras dinastias de faraós do Antigo Egipto.
Instalado há gerações sem conta nas margens do rio Nilo, o povo Toshka viu-se forçado
a abandonar esta região para dar lugar à barragem de Assuão e ao maior lago artificial
do mundo, o lago Nasser.
A submersão de uma rica região agrícola que acolhera um povo com mais de 9.000 anos de
História, impeliu Hamza El Din à recolha do cancioneiro popular dos Toshka.
Para eles a música é parte integrante do seu quotidiano, tal como é a comida ou a
bebida. Canta-se em todas as ocasiões: no nascimento, na morte, no casamento, na
circuncisão, quando se semeia, quando se colhe, para chamar alguém que está longe.
Qualquer um que seja capaz de cantar e bater as mãos ritmadamente é músico. Não
existem virtuosos ou mestres, todos são músicos e a música dos Núbios é a voz, o
tar (instrumento de percussão) e as palmas. Hamza El Din introduziu-lhe o
alaúde, instrumento árabe de cordas, depois de ter estudado no Conservatório do Cairo,
mas fê-lo soar à Núbio após muitos anos de treino.
Mais tarde estudou música ocidental na Academia de Santa Cecília em Roma e no Japão
aprendeu o que é a paciência e a precisão, bem como as imensas possibilidades que uma
só nota contem.
A sua música é uma combinação original da estrutura árabe com os ritmos e melodias do
Alto Nilo.
Em 1964 gravou o seu primeiro disco Música da Núbia e a partir daí
sucederam-se as viagens pelo mundo: concertos, conferências, aulas, colaborações com
outros grupos (Grateful Dead, Thelonious Monk, Kronos Quartet,...), com companhias de
ballet (Maurice Béjart,...), com realizadores de cinema (Coppola,...), participações
num sem número de festivais (Woodstock, Montreux, Salzburg,...), dez álbuns a solo,
colaboração em mais nove, uma autobiografia (Journey: as the Nile flows ) e
o reconhecimento mundial que faz de Hamza El Din oembaixador da Núbia.
O som que produz é tão rico que às vezes se torna difícil acreditar que é apenas um
homem a cantar, ora acompanhado pelo alaúde, ora pelo tar.
Quando Hamza El Din sobe ao palco, o tempo pára e disfruta-se de um momento sagrado.
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KROKE
Polónia
Kroke significa
em yddish Cracóvia, o nome de uma cidade polaca que antes da Segunda Guerra Mundial tinha
64.000 judeus e onde hoje apenas vivem umas escassas centenas.
Klezmer é a junção de kley (instrumento) com zemer (fazer música, cantar) e é a
designação actual para músico judeu, aquele que toca música klezmer, ou seja a música
judaica tradicional instrumental da Europa de Leste.
Ser um klezmer implica possuir uma virtuosidade rara, uma naturalidade e capacidade para
expressar com grande mestria todos os géneros musicais.
Ser um klezmer é ser capaz de descrever toda a alegria e toda a tristeza da
vida judaica através da música. Ser um klezmer é conhecer profundamente e respeitar a
tradição, mas ter também a capacidade de a levar mais longe.
Esta é a grande virtude dos Kroke.
O trio foi fundado em 1992 por três amigos que tinham terminado o curso na Academia de
Música de Cracóvia e que aproveitaram os seus conhecimentos de música clássica e de
jazz para dar um novo cariz à música klezmer. Foi isso que fez de Kroke em muito pouco
tempo um dos grupos klezmer com mais nomeada e que lhe permitiu tocar com Ravi Shankar,
Bustan Abraham, Klezmatics, Van Morrison entre outros.
O primeiro concerto fora da Polónia deu-se em Maio de 1993 em Jerusalém no Encontro de
Sobreviventes, graças a Steven Spielberg que ficou muito impressionado com a sua
actuação numa pequena sala de Cracóvia, onde se encontrava na altura para as filmagens
de A Lista de Schindler.
A partir de então foram espectáculos por toda a Europa, nos mais prestigiados festivais
e nas mais importantes salas.
Depois de 4 CDs (Trio em 1996, Eden em 1997, Live at the Pit em 1998 e The Sounds of the
Vanishing World em 1999), Tomasz Kukurba no violino, Jerzy Bawol no acordeão e Tomasz
Lato no contra-baixo, continuam a fazer excelente música e a transmitir ao público a
imensa alegria que ela lhes, e também a nós, proporciona.
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NAHAWA DOUMBIA
Mali
O Mali,
embora não seja dos países africanos mais densamente povoados 11 milhões de
habitantes e 1.240.000km2 de superfície possui uma riqueza cultural
extraordinária que lhe advem das suas nove etnias diferentes. Nahawa Doumbia pertence à
etnia Bamana da região Wassoulou que fica ao sul da capital, Bamako.
Embora a música que hoje se designa por wassoulou seja relativamente recente,
de meados da década de 70, fruto de uma criação dos nativos dessa região que emigraram
para Bamako e uma combinação dos dois tipos musicais regionais com novos instrumentos
que lhe são exteriores, ela é sobretudo reconhecida pelo público do Mali como uma
música de âmbito social em detrimento do louvor individual.
As canções de Nahawa Doumbia inscrevem-se nesta linha, já que as suas letras referem-se
muitas vezes à condição da mulher africana, à corrupção no país, às humilhações
dos seus emigrantes na Europa, nomeadamente às deportações dos sem papéis,
mas também à sua história pessoal como paradigma do que não deve ser perpetuado na
tradição.
Uns dias depois de ter nascido na pequena aldeia de Mafélé, perto da fronteira
com a Costa do Marfim, a sua mãe, já moribunda, profetizou-lhe um grande destino que
poderia não se ter concretizado se a vontade do seu pai um nobre idoso
tivesse sido cumprida: mãe e filha deveriam ser enterradas juntas. Valeu-lhe a avó e a
sua tenacidade, que a fez andar de porta em porta a pedir leite às outras mulheres para
alimentar a neta com apenas oito dias de vida.
Mais tarde é uma vez mais o pai, apoiado na tradição rígida da sua etnia, que não a
deixa cantar: Nahawa Doumbia não pertence à casta dos griots, detentores da
palavra e do canto e por isso, pese embora o deslumbramento da sua voz, a tradição
impõe-lhe o silêncio.
Canto desde pequena, mas para o fazer tinha que me esconder. Foi graças à Bienal
da Juventude organizada pelo Estado que foi possível convencer a minha família a
deixar-me participar. Em 1980 fui premiada com uma das minhas canções e a partir daí
começou a minha carreira com o meu primeiro disco em 1982.
Nahawa Doumbia contribuiu para o revolucionar da canção do Mali, não só pelas suas
letras que se insurgem contra tabús e preconceitos, mas também pelas orquestrações do
seu marido, Ngou Bagayoko.
Yankaw, a canção que dá título ao seu último disco, é dedicada aos sem
papéis e marca também o regresso a um som mais tradicional, devido à
recuperação da kamele ngoni (uma espécie de kora com 6 ou 12 cordas), do
balafon (xilofone), do djembé (tambor) e do doum-doum (tambor).
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ORQUESTRA
DE TIMBILAS DE
VENÂNCIO MBANDE
Moçambique
As timbilas
são dos instrumentos musicais africanos mais complexos, cuja descrição aparece relatada
pelos portugueses no século XV.
Pensa-se que este instrumento que se encontra hoje na costa sudeste de África, é
consequência de contactos estabelecidos no século X com a actual Indonésia.
As timbilas pertencem à família dos xilofones e são tocadas pela etnia Chopi em Zavala,
no distrito de Inhambane, a sul de Moçambique.
A construção deste instrumento dura cerca de três meses e meio e começa por uma ida ao
mato em busca de maçalas (uma espécie de cabaças) de vários tamanhos e de
mais de uma dúzia de componentes naturais que são utilizados na sua construção.Entre
eles estão a cera de abelha, a madeira espirradeira, a árvore da borracha, a folha de
palmeira e a pele de vaca que lhe confere o timbre.
Era tradição em Zavala os chefes tribais juntarem as populações de várias povoações
com o objectivo de confraternizarem, cantando e dançando. Esses encontros designavam-se
por msaho: uma actuação que envolvia um grande número de timbilas, bailarinos e
músicos, onde eram escolhidos e premiados os melhores e onde se discutiam pormenores
relativos à construção das timbilas.
Foi a partir destes encontros que muitos jovens ganharam o gosto pelas timbilas. É o caso
de Venâncio Mbande que tal como a maioria, foi nessa época trabalhar para as minas
da África do Sul. Aí se juntou a grupos de timbileiros moçambicanos e em 1953 construiu
a sua primeira timbila.
Em 1995, já cansado, tinha então 62 anos e a idade já não
ajudava, resolveu voltar a Moçambique para ensinar os mais novos. Fundou uma escola
onde tem cerca de 19 alunos de 2 aldeias diferentes e o seu próprio grupo.
Venâncio Mbande é o mais importante compositor, construtor e líder de orquestra
de timbilas vivo. Há já cerca de 38 anos que dirige orquestras de timbilas, sendo muito
exigente com a sua construção e desempenho pois segundo ele a aprendizagem deste
instrumento deve começar aos 5/6 anos de idade.
Nos anos 70 colaborou na realização de vários filmes sobre a música dos Chopi, fez
várias tournées internacionais e foi alvo de uma estrondosa e memorável ovação no
Royal Albert Hall de Londres em 1995.
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ROSA ZARAGOZA
Espanha
Rosa
Zaragoza nasceu em Barcelona em 1958 e embora tenha começado a sua carreira musical quase
30 anos depois, ela é responsável por um importantíssimo trabalho de recolha do
património musical espanhol.
São as canções republicanas da Guerra Civil de Espanha, canções de mulheres
encarceradas nas prisões franquistas, canções anarquistas, comunistas, em catalão, em
basco, em castelhano.
São as melodias tradicionais dos ciganos. São os contos de entreajuda e solidariedade
dedicados às mulheres. E são também as canções sefarditas, as canções muçulmanas e
as canções cristãs O Espírito do Al-Andalus.
Este é o espectáculo que Rosa Zaragoza mais gosta de apresentar, pois ele traduz o
espírito de convivência e de tolerância que reinavam no Al-Andalus.
São canções medievais, algumas delas resgatadas do esquecimento ( é o caso de cinco
canções judaico-catalãs, as únicas que sobreviveram a 500 anos de silêncio), cuja
reabilitação se deve a Rosa Zaragoza e que estão impregnadas de uma profunda
espiritualidade.
Elas são o espelho de três grandes culturas diferentes que souberam coexistir e
respeitar-se e pelas quais Rosa Zaragoza nutre uma grande admiração, precisamente pelo
exemplo de indulgência, de condescendência e de apreço que habitaram a Andaluzia
medieval, tornando este reinado um exemplo, raríssimo nos dias de hoje, de união entre a
Europa, a África e o Oriente!
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VÁ-DE-VIRÓ
Portugal
Vá-de-Viró é um termo de marinhagem que os pescadores algarvios empregam para fazerem
parar o barco quando ele está a varar.
Porque estão sediados no Algarve os treze elementos que compõem o Vá-de-Viró decidiram
chamar-se assim.
Foi em 1992 que juntaram concertinas, flautas, guitarras, cavaquinhos, adufes, bombos,
chocalhos, pedras, pinhas, pandeiretas, violinos, violas, sarroncas e Vai-de-Viró, que é
como quem diz vai-de-música, música de raíz popular claro.
Foram já muitos os concertos em Portugal, na Alemanha e no Canadá e até agora dois CDs
gravados: Escale au Portugal em 1994 e Vivências em 1998.
Vá-de-Viró é um grupo essencialmente acústico que faz a ligação entre instrumentos
clássicos e populares, cuja música é sobretudo a tradicional, embora do seu repertório
também constem alguns originais nomeadamente para os poemas de António Aleixo.