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Mestres Músicos de Jajouka

Marrocos
Mestres Músicos de Jajouka ao vivo na Culturgest
13 de Janeiro de 2001, às 21:30h


Os mestres Músicos de Jajouka são um grupo grande, composto integralmente por homens, que interpreta música tradicional das montanhas Rif, situadas perto de Tânger, em Marrocos.

Originalmente "descobertos" por William Burroughs e Paul Bowles nos anos 50, foram trazidos aos circuitos internacionais em 1967 por Brian Jones (o guitarrista da formação orginal dos Rolling Stones) que, tendo encontrado os músicos acidentalmente, durante um retiro nas montanhas, ficou muito impressionado com o seu talento.

Os mestres Músicos de Jajouka acabaram,consequentemente, por participar num álbum dos Rolling Stones, onde Mick Jagger chamou-lhes "um dos grupos musicalmente mais inspiradores que ainda sobrevivem no planeta".

A sua música é, pelos menos para os ouvidos "ocidentais", uma estranha combinação do som dos zumbidos agudos nasalados (imagine-se uma colmeia de abelhas) com ondas de ritmo em torrente, capazes de induzir um autêntico estado de transe...

Entretanto, há cerca de cinco anos, Lee Ranaldo, dos Sonic Youth, se encontrou nas montanhas do Rif marroquino com os Master Musicians of Jajouka, foi mais um, que se deixaram fascinar pela música extática e ritual deste colectivo do Norte de África. Dessa vez, Ranaldo utilizou uma velha guitarra eléctrica que Chris Stein, dos Blondie, havia oferecido a Bachir Attar, o líder do grupo, enquanto este tocava o bandolim de três cordas local (o guimbri) e um violinista, também marroquino, completava o trio de improvisadores entregue a mais outro diálogo transcultural e transcontinental.

Para além destes, já por lá passaram Brion Gysin, Brian Jones, Ornette Coleman ou Bill Laswell. E, agora, também o produtor anglo-indiano Talvin Singh, que, através do recém-editado e óptimo CD Master Musicians of Jajouka Featuring Bachir Attar, acrescenta mais um valioso capítulo a esta história de sedução mútua entre culturas aparentemente distantes.

No seu diário de viagem (colocado na Internet), Lee Ranaldo confessa-se desvanecido com a hospitalidade dos habitantes da aldeia de Jajouka e tece os mais rasgados louvores à superior qualidade do «kif» marroquino e à sua importância na intensificação da atmosfera gerada pela música.
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(Excertos de um texto de João Lisboa, do Jornal Expresso)

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Entrevista
Mestres Músicos de Jajouka ao Expresso, por João Lisboa
(12 de Agosto de 2000)

A propóstido da Edição do CD "Master Musicians of Jajouka Featuring Bachir Attar" Esta não é a primeira gravação em que os Master Musicians of Jajouka colaboram com músicos ocidentais. Como vê esse processo de diálogo entre pessoas provenientes de tradições culturais tão diferentes?
Nós temos o desejo de participar em experiências musicais e culturais mistas com artistas diferentes, de todo o mundo. Esse desejo existe desde que o Brian Jones e, depois dele, vários outros vieram ter connosco e conhecer-nos: estabelecer uma espécie de canal de comunicação entre a cultura de Marrocos e as outras.

Mas sente que tanto o Brian Jones como, por exemplo, o Ornette Coleman ou o Talvin Singh compreenderam verdadeiramente o sentido da vossa música?
O Ornette Coleman terá sido o que mais profundamente se apercebeu do significado da música de Jajouka quando veio ter connosco em 1973. Demos, depois, vários concertos juntos, que voltámos a repetir no ano passado. Trabalharmos com músicos do calibre dele é fácil para nós. E também não sentimos dificuldade em dialogar com músicos que provenham da tradição clássica ou do rock'n'roll. Tudo isso pode contribuir para a sobrevivência da música e da tradição de Jajouka.

Esses processos de colaboração aconteceram de um modo mais ou menos livre e espontâneo ou exigiram algum tipo de planeamento, ou de programação, relativamente a como iriam interagir?
Com o Ornette foi tudo muito livre. Ele conhece-nos bastante bem desde 1973, estudou a nossa música, por isso a integração connosco foi muito fácil. O Talvin Singh ouviu-nos, deixou-nos tocar e procurou captar a essência daqueles momentos. Com o Lee Ranaldo, dos Sonic Youth, também tocámos juntos, espontaneamente.

Fora de Marrocos, por vezes, confunde-se a música de Jajouka com a música dos Gnawa. Qual é a diferença entre as duas?
São completamente diferentes. A música de Jajouka é distinta de todas as outras que existem no resto do mundo. Mesmo em Marrocos era uma música especial, oferecida no palácio ao rei. Existe, pelo menos, de acordo com a tradição, já desde há seis gerações de reis, há cerca de seiscentos anos. Mas, nas ruas das cidades, há muitos outros tipos de música como a dos Gnawa que referiu. Os Jajouka são um único grupo, uma única família, que transmite a sua música de pais para filhos, através dos séculos.

Do ponto de vista da tradição religiosa em que a vossa música se integra, também já vi referi-la tanto como tendo a ver com o sufismo islâmico como com o antigo culto pagão de Pan. Qual é a verdade?
Muita da nossa música é realmente sufi, outra tem um carácter terapêutico, curativo, e outra ainda é especificamente dirigida para o corpo e para a dança. É uma música muito aberta, a que cada geração acrescenta sempre novos elementos. Temos realmente centenas de músicas. Mas, de um modo geral, pode-se dizer que é uma música dirigida a Deus e dedicada à paz.

Um dos aspectos mais curiosos do diário do Lee Ranaldo acerca do tempo que passou convosco é a referência que faz à importância que, para o carácter extático e religioso da vossa música, assume o facto de vocês fumarem doses gigantescas de «kif». É, de facto, verdade?
Talvez ele tenha ficado com essa ideia, mas isso não tem nada a ver com fumar ou deixar de fumar... Nós concentramo-nos na música. Ela não depende em nada das substâncias que nós consumimos. Ele pode ter falado disso no diário, tal como o Paul Bowles também já o havia feito, mas o importante não é isso...

Falou no Paul Bowles e, além dos músicos, também escritores como ele ou William Burroughs foram importantes na apresentação da vossa música ao Ocidente. O que sentiu que os atraía para a música de Jajouka?
Todos eles - incluindo o Brion Gysin -, nos anos 50, vieram ter connosco, descobriram a nossa música e escreveram acerca dela. O Brion, por exemplo, veio só de férias, mas acabou por se deixar ficar por cá durante 20 anos. Foi através dessa pista que a nossa música se insinuou no Ocidente. O Paul Bowles chegou logo a seguir. E depois vieram outros - como o professor Timothy Leary - que se deixaram prender pelas experiências de transe induzidas pelos músicos de Jajouka e que a procuraram compreender. O que levou, por exemplo, o William Burroughs a descrever a nossa sonoridade como a de «uma banda de rock'n'roll com 4000 anos de idade».

E essa descrição parece-lhe corresponder ao que é realmente a vossa música?
Acho que sim. Já ouvi muitos tipos de música diferente, mas julgo que ele se referia à energia crua e intensa que se desprende do que fazemos. Mas que também se pode descobrir no jazz ou até na própria música clássica ocidental.
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(João Lisboa - Jornal Expresso)

 

 

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