Novas
vos trago - Gaiteiros de Lisboa |
| Floresvento |
| Romance carolíngio, nunca fixado nos séculos XV e
XVI e apenas conhecido pela tradição oral moderna portuguesa (Açores e
Trás-os-Montes), foi, pela primeira vez, classificado por Dª Carolina Michaëllis de
Vasconcelos. Esta balada peninsular parece derivar, segundo palavras da romancista alemã,
da Chanson de Floovent, isto é, Flodovinc ou Chlodovinc (Cruel Vento) e
descendente de Chlodvig, cujas mocedades (Enfances) serviram no século XII se assunto a
um velho trouvère Francez. (Estudos sobre o Romanceiro
Peninsular, Revista Lusitana, II, 1891, p. 220). No fundo, este romance recorda a
história de Floovent que, por ter cortado a barba ao seu perceptor, teve de fugir durante
sete anos. O primeiro a recolher esta jóia romancística foi João Teixeira Soares de
Sousa, que dela enviou versões da ilha de S. Jorge a Teófilo Braga que as publicou, em
1869, nos Cantos Populares do Archipelago dos Açores. A versão aqui apresentada procede,
com ligeiras modificações, do Romanceiro Português, vol. I (Coimbra 1958, pp. 43-44.),
de J. Leite de Vascocellos e foi recolhida em Parada de Infações, concelho de Bragança. |
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Cruel vento, cruel vento, ó
roubador maioral.
Derrubaste três cidades, todas três em Portugal
desonraste três donzelas, todas de sangue real
mataste três inocentes, todos três por baptizar
Foge, foge, ó cruel vento, p'rás bandas dalém mar.
Nas terras donde passares, nem água t'hão,-'dé querer dar
as fontes donde beberes logo se hão-de secar.
a mesa donde comeres, logo se há de escachar;
a cama donde dormires, em fogo se há-de abrasar.
Foge, foge, ó cruel vento, p'rás bandas dalém do mar
Se derrubei três cidades, tenho com que as pagar;
se desonrei três donzelas, dote tenho p'rá les dar
se matei três inocentes, Deus me queira perdoar
- ó vento, ó cruel vento ....................................
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| O Falso cego |
| O "Falso Cego" ou o "Cego raptor"
é mais um exemplo das íntimas relações entre o romanceiro e a balada internacional.
Por isso, tal como noutros temas - veja-se neste disco, por exemplo, o do "Parto em
terras distantes" - a sua estrutura formal distancia-se do cânon romancistico.
Conhecem-se paralelos folclóricos na tradição framesi, franco-canadiana, provençal,
italiana, anglo-escocesa e anglo-americana. É, por sua vez, um dos romances mais
populares em Portugal e no Brasil, tendo sido recolhidas em território português 166
versões editadas e 228 inéditas, oriundas de Bragança, Vila Real, Porto, Braga, Aveiro,
Viseu, Guarda, Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Beja, Faro, Madeira e
Açores. A versão aqui gravada, até agora inédita, foi recolhida no distrito de Viseu
(concelho de S. João da Pesqueira), em 1989, por colectores do Instituto de Estudos sobre
o Romanceiro Velho e Tradicional. |
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Era meia-noite quando o ladrão
veio, bateu três pancadas na porta do meio.
- Acorde, minha mãe, se já está dormindo, que ali está um cego, cantando e pedindo.
- Se ele canta e pede, dá-lhe pão e vinho, não canta nem pede, dá-lhe poucochinho.
- Não quero o seu pão, nem quero o seu vi quero que a menina me ensine o caminho.
- Vai pegar na roca, carrega-a de linho, ensina o caminho ao triste ceguinho.
- Já espiei a roca, já findei meu linho, adiante, cego, lá vai o caminho.
- Venha, ó menina, mais ali, além, sou curto da vista, eu não veio bem.
- Adiante, cego, além ao pinheiro, adiante, cego, lá vai o carreiro.
- Venha, ó menina, mais um bocadinho, sou curto da vista, não vejo o caminho,
- Ó valha-me Deus e a Virgem Maria, tanta gente eu vejo, de cavalaria
- Esconda-se, ó menina, na minha capinha enquanto passa a gente de cavalaria.
- Adeus, minha casa com os meus olivais, adeus, ó meu pai, para nunca mais .
- Adeus, minha casa com minhas janelas, adeus, minha mãe, que tãofalsa eras.
- Adeus, minha casa com seus arredores, Adeus, minhas primas, vou com meus amores. Era
meia-noite quando o ladrão veio, bateu três pancadas na porta do meio...
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Gaiteiros de Lisboa
Os Gaiteiros de Lisboa são um grupo de
poli-instrumentistas que se reuniram em torno de um projecto sonoro.
Foi em busca de um som próprio que, assente fundamentalmente na combinação das
sonoridades de diversos aerofones, não apenas de tradição popular portuguesa, como
também de outras culturas, que os Gaiteiros de Lisboa conceberam em 1995 o
seu primeiro CD Invasões Bárbaras e em 1997 Bocas do Inferno.
O seu trabalho privilegia o aspecto harmónico. Os seus instrumentos são escolhidos
segundo este conceito e se os normais não bastam, o grupo inventa os seus
próprios instrumentos.
Usam instrumentos como a sanfona, a kissange e o balafon africano, flautas várias,
trompas, ponteiras, gaitas de foles e tambores, muitos e furiosos tambores...
O grupo formou-se em 1991 e é composto por músicos que têm feito o seu percurso não
só em torno da música e dos instrumentos populares, mas também nos domínios do Rock,
Jazz, da música clássica ou da música antiga. |
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