Antologia
Música Tradicional da Madeira
Os Violeiros da Madeira
Por Rui Camacho
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. . . . . . . . . . .O ofício de
violeiro já foi uma actividade de grande importância na Madeira. A produção era tão
abundante que se exportavam muitos instrumentos saídos das oficinas madeirenses. Na
cidade do Funchal, concentravam-se na Rua dos Tanoeiros os estabelecimentos e os artesãos
que os comercializavam.
Na actualidade, esta actividade encontra-se em franco declínio, sendo cada vez
mais difícil interessar os jovens pela mesma. Reflexo desta situação é o facto de
apenas haver, presentemente, três artesãos a fabricar instrumentos musicais de corda na
Madeira, que passamos a apresentar de seguida.
O violeiro Carlos Jorge Rodrigues nasceu a 20 de Maio de 1956, na freguesia de
São Pedro e tem a sua oficina no Beco dos Frias, nº 2-A, sendo o mais novo artesão em
violaria, conhecido entre os amigos como "Jorge Flauta" ou actualmente
"mestre Jorge". De 1978 até 1982, esteve ligado à oficina de apoio ao restauro
de instrumentos de sopro e de arco, no Conservatório de Música da Madeira. Mais tarde,
frequentou um estágio de reparação de instrumentos de sopro, na oficina de instrumentos
musicais "Santos Beirão", em Lisboa, onde aprendeu e restaurá-los.
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Carlos Jorge Rodrigues,
um dos poucos violeiros madeirenses que se tem investido na sua formação profissional |
Na Madeira, participou num estágio de fabrico e restauro de instrumentos
de arco, sob a orientação técnica do famoso fabricante Joaquim Grácio, de Lisboa. Foi
a partir deste encontro que despertou o gosto e a vontade de começar a fazer instrumentos
musicais tradicionais da Madeira. No ano seguinte, participou em mais um pequeno curso de
construção de instrumentos musicais elementares, com a orientação do músico
austríaco Ernest Wiblyts, frequentando em 1982 o curso de talha, na Fundação Ricardo
Espírito Santo, em Lisboa. Após o regresso à Madeira, colaborou na recolha, restauro e
construção de instrumentos, assim como no projecto de divulgação da 1ª Mostra de
Instrumentos Musicais Populares.
Começou por fazer estes instrumentos para os amigos que lhe pediam e também
para alguns grupos de música popular, tendo criado a sua oficina particular em casa. Em
1985, participou na 1ª Exposição Regional de Artesanato, organizada pelo IBTAM, na qual
foi distinguido. Na sua oficina, normalmente costuma executar braguinhas, rajões, violas
de arame, bandolins, bandoletas, bandolocelos, viola requinta, guitarras clássicas.
Também faz restauro, embora considere que é, por vezes, mais complicado.
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Manuel
Moniz descende de uma família de violeiros em Machico |
Outro dos violeiros ainda em actividade é Manuel Freitas Moniz, nascido a
29 de Abril de 1950, e natural do Sítio dos Maroços, Lombo da Roçada, Machico. Naquela
cidade é conhecido como "Moniz, o faz violas", tendo aprendido a fazer
instrumentos com o seu pai, por vontade própia. No fundo, tratava-se de continuar uma
tradição familiar, vinda já do seu avô, João Moniz e de José Moniz, tio, Manuel
Vasconcelos, tio e Manuel Moniz, seu pai.
Começou a fazer instrumentos a partir dos 11 anos. Faz instrumentos para
particulares, grupos de folclore, bazares de artefactos e para turistas interessados. Até
aos 20 anos, foi essa a sua profissão, tendo sido igualmente elemento do grupo de
folclore de Machico, como tocador de violino, que aprendeu com seu pai. Faz rajões,
braguinhas, violas de arame, violas francesas, bandolins, bândolas, rabecas (violino
popular). O primeiro violino que fez foi à cerca de 25 anos.
O Mestre Cambé tem a particularidade de ensinar aos seus clientes a tocar
os instrumentos que faz |
No Funchal, um dos violeiros mais interessantes e também o mais antigo é
Francisco Mendonça Rodrigues, mais conhecido como Mestre Cambé. Tendo nascido a 15 de
Agosto de 1924 em São Pedro, Funchal, Francisco Cambé pertence a uma antiga família de
violeiros, inaugurada com o seu bisavô Baurura Cambé.
Começou a trabalhar na oficina do seu tio, sendo este o seu mestre desde muito
novo, tendo também aprendido alguns segredos com outro violeiro famoso da época, o José
Guitarrista. Fez instrumentos para grupos de folclore, tunas e para o estrangeiro e tinha
a particularidade de ensinar a tocar quem comprava instrumentos na sua oficina. Pertenceu,
durante muito tempo, ao grupo de folclore Os Ilhéus, como tocador e ensaiador musical.
Esteve, também, ligado ao Grupo Cultural do Caniço.
Em 1985, participou na 1ª Exposição Regional de Artesanato, Organizada pelo
IBTAM, na qual foi distinguido. Considera-se um tradicionalista no fabrico de instrumentos
populares, mantendo ainda o processo de fabrico e a forma tal como faziam os seus tios.
Instrumentos que já fez: braguinhas, rajões, violas de arame, violas de seis, bandolins,
rabecas e guitarras.
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Rui Camacho
Rui Camacho nasceu no Funchal em 1957 sendo músico e presidente da
Associação Musical e Cultural Xarabanda, entidade que desenvolveu um trabalho pioneiro
desde 1981 na defesa e promoção da música tradicional da Madeira. Foi igualmente um
membro fundador da Associação da Música Tradicional e Popular da Madeira em 1998 e
desenvolve a sua carreira profissional como fotógrafo.
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