"A música Tradicional, ou rural,
como se lhe queira chamar, é um exemplo bastante próximo daquilo que pode ser a música
na sociedade como parte da vida e não como objecto de consumo. O mais importante não é
a música mas, de certa maneira, as passoas que nasceram antes dela. A maneira de estar
deste grupo é cantar, e cantar esta música; e à frente colocamos o modo de a viver, o
"dar-nos para cantar" logo que nos juntamos.
(Rui Vaz, in "Quatro anos de trabalho na B.O.O.", 1983) |
Cramol: Polifonias no Feminino Ao vivo em Almada Dia 18 de Dezembro (21:30h) - Fórum Municipal
Romeu Correia
Mais de vinte mulheres cantam, muitas das vezes em círculo, polifonias
tradicionalmente reservadas ao seu género. Estas mulheres, que partilham a mesma origem
urbana, mas que têm profissões e idades muito diversificadas, procuram no seu interior o
timbre e a disposição que nasce com cada útero. Esse timbre, por vezes estranho, por
vezes estridente, toma diferentes formas não só consoante as regiões do país, mas
também conforme a situação em que a canção é evocada, aquilo que conta ou de quem
lhe dá voz. Trata-se de uma pesquisa íntima para cada uma destas mulheres, tomada como
uma aventura - a aventura de descobrir a essência e a força da sua feminilidade. É
afinal uma outra forma de embalar um filho, de se dizer que se está feliz, que se está
em sofrimento, que se está apaixonada. O grande desafio é mais do que reproduzir
fielmente os cantos tradicionais de mulheres, enfrentar uma nova disponibilidade da voz e
do corpo, recriando uma temporalidade que se julgou perdida nas sociedades de hoje. Teresa Fradique, 1995
"Desde os séculos XII e XIII, as mulheres de Portugal têm sido portadoras
de uma tradição cuja antiguidade e origem é impossível de avaliar. Já no tempo de D.
Dinis notaram viajantes estrangeiros que no noroeste da Península, ao contrário do que
sucedia noutros países, as mulheres cab«ntavam mais do que os homens. O mesmo se
verifica ainda hoje. Em toda a parte onde vi dançar e cantar, sempre que não havia
música instrumental, eram as mulheres que a susbstituíam (...) e que, com as suas vozes
estridentes, agudas e nasaladas, insuportáveis de ouvir numa sala, mas adequadas ao ar
livre, onde a voz pode ir longe, cantam versos intermináveis e por os haverem
decorado se celebrizaram" Rodney Gallop, In
"Cantares do Povo português" |
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Veja também. |
.Outros Sons: Cramol |
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Neste disco de 1996, o Cramol canta música
tradicional portuguesa "a capella" ou apenas com o Adufe. Não
canta com arranjos ou "modernizações", nem como se de um documento histórico
se tratasse: canta com o coração, com os pulmões, como fazem as mulheres rurais. Com o
Cramol, acontece um duplo e fascinante fenómeno: a música ouvida nos campos e nos montes
surge cantada com a mesma força, a mesma garganta aberta e a mesma espontaneadade, pela
mulher moderna e citadina.
São João e Menino
do Balho são dois exemplos da magia... |
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