Multimúsicas, o grande festival de Músicas do Mundo aconteceu
em Lisboa.
| Lisboa precisava de um festival
assim. Cidade multicultural por excelência e vocação, Lisboa merece projectos que
celebrem esse contraste criativo que lhe está na pele. A
música é um meio poderoso de combate ao racismo e à xenofobia, e em quase todas as
grandes cidades europeias isso é hoje já consensual. É pois (mais que) tempo de Lisboa
ter um evento regular deste tipo, concebido segundo critérios rigorosos ou, no mínimo,
bem fundamentados. Um festival que se propõe promover as músicas e as culturas do mundo
deve privilegiar a festa e o encontro, o contacto com a rua e com as gentes. Deve evitar
os alçapões do "bacalhau com todos" ou dos "reis da TV e disco".
Assumindo a subjectividade das escolhas e a justeza dos critérios.
E porque quando falamos de músicas do mundo estamos a jogar com um
conceito que "mexe" com várias coisas algumas pouco claras à
superfície , é importante ter presente que um festival deste tipo não pode ser
uma mera sucessão de concertos; precisa de ter uma envolvência mais ampla, que permita
ao espectador (em especial ao mais despre-venido) matar várias curiosidades: a de ouvir
mais, a de saber mais, a de perceber o que está para lá do palco, a de continuar em
contacto com realida-des e culturas que, ainda há pouco, mal conhecia.
Foi assim que, em muitos países, europeus e não só, se
desenvolveram e ganharam o seu espaço cultural, social e mesmo político os
festivais "folk" ou "world".
Mas vai longa a prosa e é curta a paciência, decerto. Vamos pois
ao que interessa.
A ETNIA |
Chouteira
(Galiza - Espanha)
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Ter
15
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Tradições musicais da Galiza,
na versão pura e dura. Gaitas-de-foles, pan-deiretas, acordeões e a voz notável de
Uxía Pedreira, na linha da frente. Um dos mais sólidos representantes da nova geração
de grupos de música popular galega. A Galiza em festa a abrir o Multimúsicas, ali bem
perto do bairro mais emblemático das comunidades galegas de Lisboa. |
LO'JO
(França / Marrocos)
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Atenção! Os Lo'jo podem muito bem vir a
ser a grande surpresa do Multimúsicas. De Angers, no coração do hexágono francófono,
chega-nos a força da fusão franco-beur, o resultado da criatividade da 2ª e 3ª
gerações de emigrados mediterrânicos. Lo'Jo Triban, de nenhures e de todos os
territórios. Entre a ternura e a raiva, vai-se consolidando a tribo.
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ASTURIAN
MC (Astúrias - Espanha)
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Qua
16
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Incógnita total. Pouca
gente os ouviu, e quem os conhece diz-nos: - depois falamos. - Mas é mau? Fabuloso? - Já
te disse, depois falamos. E a julgar pelas notáveis performances dos novos músicos
asturianos no quadro da música folk espanhola dos últimos dois anos (com o
super-gaiteiro Hevia à cabeça e os seguríssimos Luétiga na linha de fundo) talvez o MC
destes asturianos possa afinal traduzir-se por Muito Competente. Depois falamos.
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ABDELLI
(Argélia)
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Argelino, exilado em Bruxelas, Abdelli
encantou Peter Gabriel e o staff da Real World, com a sua New Moon (aviso à navegação:
é imperdível!). Desde aí, tem corrido mundo. Em Portugal, conhecem-no na Guarda, em
Évora, Loulé, Guimarães e Cuba, onde actuou desde Julho de 1998, aproximando-nos um
pouco mais do sol e da herança mediterrânica que nos está na pele. Acompanhando
superiormente a voz e a mandola, com Abdelli estará um violinista prodigioso e uma
secção de percussões contagiante. |
URBÁLIA
RURANA (País Valenciano - Espanha)
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Qui
17
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Grupo incontornável da
cena folk ibérica dos últimos anos, Urbália Rurana é hoje uma presença sólida em
toda a Europa do Sul. Explorando as sonoridades mediterrânicas, da Grécia à Andaluzia
marítima, o grupo de Toni Torregrossa aponta caminhos de fusão entre a raiz e a
modernidade, no que para muitos é, actualmente, uma das experiências mais bem sucedidas
a sul dos Pirinéus. |
HABIB
KOITÉ + GUTO PIRES (Mali / Guiné-Bissau)
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Novidade absoluta. A ouver
vamos. Habib Koité é uma das mais jovens descobertas da música urbana do Mali. Guto
Pires é um dos mais sólidos representantes da música da Guiné-Bissau. Nunca se
encontraram, mas a música que ambos fazem indicia esse encontro, acreditamos nós. Por
isso os desafiámos, por isso vão mostrar em Lisboa o que podem fazer juntos, e também
sozinhos. Sob o grande espírito protector da África Ocidental. Djarabi!
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GAITEIROS
DE LISBOA (Portugal)
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Sex
18
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Palavras para quê? São
gaiteiros portugueses! E também tamborileiros, flautistas de fôlego ou cantores
afamados, que fomos encontrando pelas veredas da música popular portuguesa das últimas
duas décadas. Juntemo-nos pois aos "túbaros de orfeu" e, ao som da gaita e do
tambor, iluminemos de fogo a zona ribeirinha, na noite das novas invasões bárbaras.
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KATHRYN
TICKELL (Inglaterra)
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Incansavelmente incensada por críticos e
melómanos, Kathryn Tickell está hoje na linha de frente da música folk europeia. As
suas raízes estão em Northumberland, no Noroeste de Inglaterra. Notável instrumentista,
dominando superiormente violinos e gaitas-de-foles, Kathryn é presença habitual em
estúdios e palcos ao lado de Sting, The Chieftains ou da saudosa Penguin Cafe Orchestra.
Em concerto, tem coleccionado êxitos um pouco por toda a Europa. Actua pela primeira vez
em Portugal, finalmente. |
LA
CHAVANNÉE (França)
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Sáb
19
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Representantes das tradições
musicais da França rural, La Chavannée é um grupo de bom e novo folk francês
acústico. A sua história começa como uma história: era uma vez... um conjunto de
pessoas que fazia música, que comprou um celeiro, que quis viver no campo, que
aperfeiçoou a sua arte musical, que se tornou um grupo celebrado em toda a França e em
toda a Europa do Sul. A Lisboa, trazem uma equipa de respeito, chefiada pelo mago da
sanfona Patrick Bouffard e pelo discreto mas excelente Fréderic Paris, nos acordeões.
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Magaly
Bernal Y Estrella De La Charanga (Cuba)
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O som das charangas do oriente de Cuba, no
seu melhor. Cordas e percussões multiplicando-se em diálogos ritmados, do lirismo à
descarga dançante, ilustrando de forma superior o notável poder da fusão dos ritmos
europeus com as tradições afro-latinas. Já seria excelente assim, mas com a voz de
Magaly a romper por sobre as cordas e os tambores, é magnífico. A bailar!
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CALICANTO
(Itália)
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Dom
20
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Os sons da comedia dell'arte
veneziana, trazidos até aos nossos dias. Um itinerário de tradições musicais
e novos temas, fundindo-se numa sonoridade única, fruto de uma investigação contínua
cujo resultado é uma linguagem musical em que convergem o humor e a alma da Europa
Central e do Alto Mediterrâneo. Quem já viu os Calicanto recordará certamente a
elegância e a leveza da sua música, a evocar ambientes de uma clara e sentida
teatralidade.
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RADIO
TARIFA (Espanha / Marrocos)
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A Espanha das três culturas, em encontro
e síntese exuberantes. Fain Dueñas, Benjamin Escoriza e seus cúmplices levam-nos pelos
caminhos do Sol, envolvendo-nos nos ritmos e nas melodias do encontro entre a Europa e a
África, entre o Oriente o Ocidente. Como só eles sabem. Quatro anos depois da sua
estreia internacional, justamente em Portugal, Radio Tarifa ganhou adeptos incondicionais
em todas as frentes da música popular mundial. |
BERROGUËTO
(Galiza - Espanha)
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Seg
21
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É talvez o projecto musical mais
singular surgido na Galiza nos últimos anos. Seis músicos jovens, presentes em
quase todos os grupos que mudaram a cena folk galega na década de 90, aliam uma elevada
qualidade musical a uma evidente vocação de palco. Fugindo a um tradicionalismo redutor,
Berroguëto trilha caminhos contemporâneos de fusão, inserindo a música galega num
panorama universal de que a componente celtizante é, apenas, um entre vários elementos.
Mas essa já é outra conversa. |
VÄRTTINÄ
(Finlândia)
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O calor que vem do frio. Armadas de
harmonias vocais desconcertantes e acordeões vertiginosos, foram co-responsáveis pelo
boom da música finlandesa nos circuitos folk mundiais e abriram as portas à hoje
instala-díssima popularidade internacional da música nórdica. Incendiaram plateias, de
Helsínquia ao Texas. Hoje, no mundo da world music (seja lá isso o que for), são
estrelas. Brilharão, também, em Lisboa? |
SHARON
SHANNON (Irlanda)
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Ter
22
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É já uma lenda nos círculos
tradicionais do folk (e do rock) irlandês e europeu. Com o seu grupo habitual,
tem encantando plateias graças à sua técnica e vitali-dade estonteantes, e a um humor e
alegria praticamente únicos no quadro da música folk irlandesa. Toca violino e acordeão
diatónico e é aquela jovem de boné à mineiro que está na foto de capa de um celebrado
disco dos Waterboys. |
SUPER
CAYOR DE DAKAR (Senegal)
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Na década de 50, as cidades da África Ocidental
dançavam ao som da rumba e da salsa. Celebravam-se os ritmos afro-latinos
trazidos pelos descendentes dos antigos escravos negros do Caribe, e
"re-africanizavam-se" as melodias latinas. Ao lado de grupos como Africando,
Super Étoile ou Orchestra Baobab, Super Cayor é um dos resistentes, autêntica escola de
música por onde passaram várias gerações de instrumentistas de grande mérito. Super
Cayor, de Dakar.
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AYOUB
OGADA + THE NORWEGIAN HOOD BAND (Quénia / Noruega)
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Qua
23
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O que têm o Quénia e a Noruega
em comum? No que toca a este grupo, arriscamos, talvez o gosto pelo risco e pela
criatividade. Quem duvidar, que ouça os CDs de Ayoub e os trabalhos de Mari Boine Persen.
Entenderam bem: esta Hood Band é nada menos que a espinha dorsal das sonoridades
magníficas e únicas da pequena-grande voz da Lapónia norueguesa. Em estreia mundial
absoluta, Ayoub + Hood Band desafiam as fronteiras do tempo e da música.
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TAJ
MAHAL + HULA BLUES (EUA / Hawai)
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Blues do Sul dos EUA e cavaquinhos hawaianos,
em diálogo explosivo. Fala o velho bluesman: este projecto é o exemplo do que pode
acontecer quando pessoas com claras afinidades de pensamento, mesmo com distintas
ascen-dências afro-caribenhos, afro-americanos, nativos das ilhas do Pacífico,
portugueses e outros europeus , conseguem criar uma mistura cultural cheia de
alegria, amor e harmonia. No fundo, esta é a linguagem universal da música".
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Os concertos iniciam-se às 22 horas -
entrada livre (o programa pode ser alterado por motivos imprevistos)
Feira do disco
Todos os dias, das 17 às 24h. As mais variadas e
desvairadas músicas, do tradicional puro e duro à fusão mais iconoclasta. Os discos dos
artistas presentes no Multimúsicas e nos Encontros Musicais da Tradição Europeia.
Títulos novos e outros difíceis de encontrar. Músicas de um mundo diferente e de muitos
mais iguais do que parecem. A preços imbatíveis.
Exposições Os Mundos
Por Detrás da Música
Todos os dias, das 17 às 24h. A world
music, uma ideia ocidental muito pouco ingénua? Onde começa e acaba o mundo? De
que(m) falamos quando falamos de mundo? De nós? Dos outros? Esta é uma exposição que
toma partido, que questiona e põe o dedo nas feridas. Exposição foto-documental sobre o
contexto sociocultural das chamadas "músicas do mundo", da responsabilidade da
ONG britânica RISC (versão portuguesa: ETNIA).
Presenças - Fotografias de Michel
Giacometti
Todos os dias, das 17 às 24h.
Giacometti fotógrafo. Imagens (quase) inéditas das vagabundagens no Portugal profundo do
etno-musicólogo corso responsável pelo redescobrimento da música popular portuguesa a
partir da década de 60. Uma exposição que tem muito a ver com a música e tudo a ver
connosco.
World music disco
5ª, 6ª e Sábado (17, 18 e 19)
3 noites de bailação "world", animadas por DJs nacionais e estrangeiros
habituados a essa tarefa impossível de provar que estas músicas também se dançam. A
partir da 1h e, por razões óbvias, só até às 2h. A partir daí, as opções estão
perto e em aberto.
Apresentação da Exposição de Músicas do Mundo -
Zaragoza 2000
Diariamente, no espaço da
Exposição "Os Mundos Por Detrás da Música", poderá saber mais sobre esta
grande iniciativa prevista para o Outono do próximo ano, e que pode muito bem ser o
"baptismo de músicas do mundo" para um bom número de portugueses. Basta para
tal que vençam a inércia e se organizem (por exemplo, contactando a ETNIA, que está já
a preparar a "invasão lusa" das terras de Aragão, nessas datas...).
Divulgação do Painel de Músicas do Mundo da União
Europeia de Radiodifusão
Diariamente, no espaço da Feira do
Disco. Informação e música com o selo do World Music Charts/EBU, o único top europeu
de músicas do mundo, que reúne dezenas de jornalistas e produtores radiofónicos
militantes destas músicas, um pouco por toda a Europa. Menos em Portugal, como se temia,
mas pode ser que depois deste esforçozinho de divulgação alguma rádio de âmbito
nacional abra as ondas ao mundo...
RESTAURANTES E BARES
Comidinhas e bebidinhas. Mais ou
menos "do mundo", conforme a inspiração do pessoal de serviço. Não há muito
mais a dizer, só a provar...
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