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Crónica
A viola Campaniça não Morreu
Por Walter A. SilvaA viola Campaniça não morreu com Jorge Montes Caranova, Ernesto
Veiga de Oliveira ou Michel Giacometti
Os trabalhos de Ernesto V. Oliveira e Michel Giacometti serviram de ponto de
partida para a pesquisa do advogado José Alberto Sardinha entre 1983 e 1985 de que
resultou a publicação de um Álbum, há muito esgotado e reeditado, em CD, pelo Jornal
de Notícias em 1988. Alberto Sardinha ainda conheceu Jorge Montes Caranova - em 1983
vivia ele em Lisboa com familiares, mas já não tocava guitarra. Também conheceu Manuel
Inácio Verónica - que àquela data vivia na Estação de São Martinho das Amoreiras.
Inácio Verónica é referido por toda a gente que o conheceu como o melhor guitarrista de
todos os tempos: 'Para onde ele ia levava um exército atrás, para o ouvir' refere
Amilcar Silva. Alberto Sardinha também conheceu e gravou Manuel Bento, que em 1983 havia
6 anos não pegava na guitarra. Infelizmente Manuel Bento deixou de tocar em 1999; outra
perda importante foi a morte do cantor e tocador António José Bernardo, em Setembro de
1999.
A pesquisa e a publicação de Alberto Sardinha fez renascer o interesse e o gosto pelas
modas e pela guitarra campaniça. Desde finais de séc. XVIII que a guitarra vinha sendo
desalojada pelos acodeões. Desapareceu dos bailes e do acompanhamento das modas (e
respectivas cantigas). A guitarra foi salva da extinção completa pelo cante a despique e
ao baldão, teimosa e persistentemente cantados, pelos mais velhos, à lareira, em festas
particulares e encontros de cantadores a despique e baldão; nomeadamente na romaria do
Sra. da Cola (próximo de Ourique) ou na Feira de Castro Verde.
Os principais motores da revivescência da guitarra campaniça foram a cooperativa
cultural Cortiçol, apoiada pelo município de Castro Verde e, - é importante dizê-lo -
o sr. Amilcar Martins Silva (da Corte Malhão, Freg. de S. Martinho das Amoreiras) que
recomeçou a tocar; tem um quarteto com duas cantoras e dois guitarristas, um dos quais
com 16 anos, e começou a construir guitarras campaniças. Actualmente, podemos dizer,
todas as guitarras campaniças existentes no Alentejo - incluindo a de Manuel Bento -
foram construídas por Amilcar Silva, pois as construídas em Braga (Tebosa) por Domingos
Machado não têm o som original da campaniça e além disso não dão afinação par o
despique e baldão, embora o dêem para as modas.
O trabalho de José Alberto Sadinha foi renovado e transformado num livro-disco e vai ser
editado pela Tradisom (info@tradisom.com) ainda este ano ou em Janeiro de 2001.
Entretanto, a Tradisom vai sucessivamente editar 14 livros-CD sobre a música de
tradição portuguesa; sendo o primeiro sobre a música da Estremadura: terá 800pág.,500
fotos, 250 partituras e 2 CD.
Para quem deseje apreciar o cante campaniço ao vivo e nos moldes tradicionais não deve
perder o "Encontro de Cantadores a Despique e Baldão"
na Feira de Castro Verde, que este ano vai acontecer no Sábado, dia 14 de Outubro 2000,
às 21h30. (Informações: Cortiçol ou CM
de Castro Verde (Serviços Socio-Culturais, vereador Paulo Nascimento - município.cverde@mail.telepac.pt.
Outros eventos ocorreram recentemente: a romaria de Castro da Cola, em 7 de Setembro e o
festival Planície Mediterrânica, no segundo fim de semana de Setembro, onde decorreu
também um debate, uma feira do disco étnico e a apresentação de um CD de cante ao
baldão, editado pel ImagenImenso, gravado na referida romaria do Castro da Sra. da Cola
em 1988, (Em 1999 o tema do cante nesta romaria foi os acontecimentos em Timor após o
referendo, foi gravado por Rafael Correia e emitido em 11 de Setembro de 2000 no seu
programa Lugar ao Sul, na RDP-Antena1, aos Sábados das 9h às 11h, e agora também aos
Domingos das 14h às 15h). Walter A. Silva
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