Carlos Guerreiro e José Salgueiro
Carlos Guerreiro
José Manuel David e Paulo Marinho
Da esquerda para a Direita: José Salgueiro, Carlos Guerreiro, Rui Vaz, Pedro Casaes e
Paulo Marinho
José Salgueiro
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Fotos de Rui Monteiro
Texto João Maia
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Almada
Gaita para os
Fogos de Artifício
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Por João Maia
Terminou com alguma polémica o concerto que
os Gaiteiros de Lisboa deram no sábado, dia 21 de Julho, em Almada, tudo por causa de um
lançamento de fogos de artifício que, por algum motivo estranho, não foi adiado para
depois do concerto terminar. Os fogos acabaram por ser lançados enquanto decorria o
concerto, facto que deixou visivelmente irritado um dos elementos dos Gaiteiros, Carlos
Guerreiro.
Num local bastante agradável, próximo do Miradouro da zona velha de Almada, mesmo à
beira do rio Tejo (com uma bela vista para a Ponte 25 de Abril e para Lisboa), a noite
começou com as Adufeiras de Monsanto, que interpretaram alguns temas durante cerca de
meia hora antes de entrarem em cena os Gaiteiros. E o concerto destes até estava a correr
bastante bem. Os músicos interpretaram um alinhamento semelhante ao do seu recente
registo ao vivo ('Dança-Chamas'), embora mais curto. No entanto não deixaram de fora
nenhum dos temas mais conhecidos como 'La Sarandillera', 'Romance da Lhoba', 'Décimas',
'Nós daqui e vós dali' ou 'Lenga-Lenga', interpretando-os com a mestria e irreverência
que se lhes reconhece desde que começaram este projecto. O público estava a corresponder
ao espectáculo, respondendo com energia ao poder dos bombos e aos solos de gaita do Paulo
Marinho.
No entanto o momento mais escaldante da noite estava para vir,
quando Carlos Guerreiro se apercebeu que o lançamento dos fogos de artifício que estava
marcado para as 23:30 se ia iniciar a essa hora (independentemente dos músicos convidados
terem ou não acabado o seu concerto). No início, os Gaiteiros reagiram com algum à
vontade e com algum humor ao facto (José Salgueiro, nas percussões, ia respondendo ao
som dos foguetes com o virtuosismo que o caracteriza), porém, quando terminou o
espetáculo, Guerreiro estava zangado com a Camara Municipal de Almada pelo que se havia
passado e fez questão de o demonstrar. O público ainda chamou os músicos para um encore
e estes corresponderam dizendo que o faziam pelas pessoas que ali estavam a assistir, e
que estas não mereciam a "merda de Camara que têm".
Esta última frase de Carlos Guerreiro dividiu o público - que até aí se tinha mostrado
sempre ao lado dos músicos - e levou a Presidente da Camara de Almada, que se sentiu
ofendida pelas palavras de Carlos Guerreiro, ao palco, começando por pedir desculpas aos
músicos e exigindo o mesmo da parte destes pelas palavras mais bruscas. Carlos Guerreiro
acabou por fazê-lo e o concerto terminou com o tema 'O Menino está na Neve', com um
público já menos atento à música propriamente dita e mais interessado em discutir o
que se havia passado.
É um facto que a Camara de Almada se calhar não merece as palavras duras que Carlos
Guerreiro lhe dirigiu, até porque no que diz respeito à política cultural tem tido um
papel bem mais activo do que outras autarquias do nosso país, providenciando espaços
como o Fórum Romeu Correia por onde já passaram nomes como o Quarteto Jobim Morelembaum,
Amélia Muge e os próprios Gaiteiros, em concertos memoráveis. Mas também é certo que
os Gaiteiros de Lisboa, pelo papel que desempenham na divulgação da música tradicional
portuguesa (conquistando inclusive prémios internacionais) e pelo passado dos seus
elementos, não merecem que a Camara os convide para um concerto e depois permita que este
seja interrompido por um fogo de artifício que não podia esperar meia hora. João Maia
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