Àgueda
Cimeira do Fole
Do Brasil, Renato Borghetti
Auditório do CEFAS, dia 23 de
Março de 2002, às 21:45h
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brasileiro Renato Borghetti subirá ao palco em Águeda com a sua gaita-ponto - um misto
de concertina e acordeão tradicionalmente usado no sul do Brasil. È o segundo momento da
Cimeira do Fole, promovido pela d'Orfeu, que sobe ao palco do CEFAS, em Águeda.
Apesar de igualmente viajeiro, Borghetti não terá na Europa a
fama de Kepa, mas goza de estatuto idêntico por toda a América do Sul, idolatrado nas
pampas do sul do seu Brasil, do Uruguai e da Argentina. Borghetti, para além de músico
conceituadíssimo, é um símbolo da tradição gaúcha: toca como um possuído - o que
causa ainda maior impressão a quem conhece as limitações deste instrumento - e é uma
figura fascinante: alto, cabeludo, tímido e com aquele chapéu invariavelmente inclinado
sobre o rosto. Isso somado às típicas botas gaúchas e às alpargatas de corda com que
se apresenta em palco, constrói uma figura mista de roqueiro e "gaudério" tão
autêntica que acaba sempre por demolir a assistência.
Renato e a sua gaita-ponto são inseparáveis. Com ela já brilhou
a solo, já se apresentou com inúmeras formações instrumentais, das mais simples às
mais arrojadas, até já tocou com orquestra sinfónica. Neste pequeno roteiro europeu com
que inicia a temporada de 2002 (estará na Áustria e em Portugal) faz-se acompanhar em
quarteto, na companhia de Daniel Sá (guitarra), Hilton Vacari (violão) e Pedro
Figueiredo (sax e flauta).
Alternando trabalhos mais simples e gauchescos com momentos de
maior sofisticação e acenos para o jazz e a música erudita, Borghetti tem sabido
cercar-se dos melhores músicos. Perde-se já a conta aos prémios ganhos em festivais no
Brasil, deu concertos em cidades europeias que vão de Paris, Munique, Estugarda a Viena.
Com cada vez mais sucesso em investidas européias, chegou já a gravar e lançar discos
seus no velho continente e participações em trabalhos de outros artistas. Entretanto, o
maior marco da carreira deste gaúcho foi ter ganho pela primeira e única vez em todo o
Brasil, um disco de platina com um álbum exclusivamente instrumental. Isso aconteceu era
Borghetti pouco mais que adolescente. Agora, rapaz trintão, vai já na quinzena de
álbuns editados.
Borghetti manter-se-á até 23 de Março como um ilustre
desconhecido para a maioria do público português. A verdade é que Borghetti vem pela
segunda vez a Águeda. A primeira aconteceu envergonhadamente há dois anos atrás quando
o gaúcho ensaiou na d¹Orfeu ao lado de Artur Fernandes e do caboverdiano Julinho da
Concertina. O momento não deixou de ser aproveitado para umas dicas aos alunos de
concertina e um ensaio aberto no pátio do Espaço d¹Orfeu. Agora, vem para participar
por direito próprio, na pompa da Cimeira do Fole. É só mais um momento nascido do sonho
de sediar em Águeda o universo.