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Crítica
A Noite Mágica
de Kepa Junkera e Danças Ocultas
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Os portugueses Danças Ocultas e o basco Kepa Junkera partilharam o mesmo palco do Teatro Camões, em Lisboa: lá brindaram-nos com um pouco do melhor do que se faz nos dois países, no que toca ao Acordeão Diatónico...

Por João Maia
A Magia dos Foles
Inserido no Festival das Musicas e dos Portos, que teve lugar em varios espaços da cidade de Lisboa de 1 a 9 de Fevereiro, decorreu no Teatro Camões (Parque das Nações) um concerto que procurou juntar as tradições musicais de Portugal com as do País Basco, por intermédio de um instrumento que sempre desempenhou um papel preponderante na cultura popular de ambos os povos: o acordeão diatónico, tanto na sua variante portuguesa (concertina) como basca (trikitixa). E quem melhor para unir estas duas culturas do que os Danças Ocultas, quarteto autor de um louvável e único projecto no panorama musical português, e Kepa Junkera, músico de Bilbao e verdadeira referência no que diz respeito à trikitixa.

O concerto teve duas partes distintas, com os Danças Ocultas a "abrir as hostilidades" e a tocarem durante cerca de uma hora, e Kepa a seguir, brindando-nos com cerca de hora e meia do seu virtusismo.

Mas comecemos pelo início, ou seja, pelos Danças Ocultas. Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel. Quatro amigos que se juntaram com base no gosto que têm por um instrumento musical há muito esquecido em Portugal (exceptuando nas festas populares e ranchos folclóricos), formando assim um agrupamento de quatro concertinas. Dito isto aos que não seguem o panorama da música de raiz tradicional do nosso país, pode não parecer um projecto muito ambicioso nem muito interessante. Pois é, mas estes quatro amigos souberam torná-lo interessante muito por culpa do enorme talento de cada um deles e por causa da originalidade que souberam colocar no projecto ao aproveitarem ao máximo todas as potencialidades deste instrumento. Não é, por isso, de estranhar que num concerto dos Danças Ocultas se tenha a oportunidade de ver uma concertina ser utilizada como instrumento de percussão, ou de se escutar música feita apenas com o som do ar nos foles.

E no concerto do passado dia 7 de Fevereiro, uma vez mais ficou demonstrado todo o talento deste quarteto. Os músicos conhecem-se bem uns aos outros e têm um excelente entendimento em palco. Para além disso conhecem muitíssimo bem o instrumento que tocam (chegaram inclusive a fazer alterações às suas concertinas de forma a que o timbre tradicionalmente estridente deste intrumento não prejudicasse a sonoridade do conjunto), e denotam um grande à vontade em todo o seu repertório. O quarteto tocou maioritariamente temas dos dois álbuns que têm editados ('Danças Ocultas' e 'Ar'), embora também tenham interpretado alguns temas novos, por sinal muito bons, que nos deixam ansiosamente à espera por um próximo trabalho discográfico. Mas mesmo nos temas mais antigos existe sempre um elemento novo quando estes músicos os tocam ao vivo: um adorno aqui, um improviso acolá e mesmo os que já os conheciam não conseguem deixar de ficar surpreendidos com tanto talento. Por favor alguém que ponha os olhos nestes jovens e no trabalho que eles desenvolvem porque desta vez é mesmo caso para dizer que "o que é nacional, é bom"...

E se me desfiz em elogios aos Danças Ocultas, o que dizer do senhor que se seguiu, o basco Kepa Junkera, já conhecido e conhecedor de grandes palcos portugueses ? Com efeito corro o risco de me repetir mas não há grande alternativa a não ser aplaudir este mago da trikitixa que uma vez mais nos deu, a nós portugueses, o prazer de o ver tocar. Desta vez, e como se compreende, o músico trouxe-nos um repertório mais baseado no seu último trabalho de estúdio, 'Maren', o que, aliás, se adequa na perfeição ao tema do próprio festival, uma vez que o disco é quase todo dedicado ao mar ('maren' em basco). Porém não se coibiu de nos presentear com alguns dos seus temas mais conhecidos do genial 'Bilbao 00:00' e com outros extraídos de trabalhos anteriores como 'Leonen Orroak'. E não se pense que o concerto sofreu com o facto de muitos dos temas serem novos. Não. Quando se trata de músicos do calibre de Kepa Junkera, pouco importa se os temas são novos ou não porque a genialidade está sempre lá. Kepa nasceu para tocar a trikitixa, diverte-se e diverte-nos em cada concerto que dá, e entrega-se na totalidade a cada acorde que arranca ao instrumento. Os magníficos solos de introdução aos temas, os improvisos, os arranjos, o virtuosismo, tudo se conjuga para dar ao público uma sensacional experiência musical.

Claro que a isto tudo não são alheios também os músicos que normalmente acompanham Kepa em todos os seus concertos há já alguns anos. Angel Unzu (bandolim, guitarras), Blas Fernandez (bateria), Julio Andrade (contrabaixo, maracas) e Harkaitz Martinez e Igor Otxoa (txalapartas). Mas desta vez, e no último encore, Kepa convidou mais quatro elementos para se juntarem a ele em palco: mem mais nem menos que os Danças Ocultas que assim se juntaram a Kepa numa "jam session" curiosa de quatro concertinas e uma trikitixa. E se no início pareciam estar com alguma dificuldade em acompanhar os dedos mágicos de Kepa num tema que mal conheciam, logo entraram no jogo, e se adaptaram, chegando mesmo Artur Fernandes a presentear o público com um diálogo da sua concertina com a trikitixa de Kepa.

Uma vez mais ficou demonstrado neste concerto que a música acaba com fronteiras e com barreiras entre povos, afirmando-se cada vez mais como linguagem universal. E ficou também demonstrado que ainda há pessoas em Portugal que prestam atenção à boa música e se preocupam em divulgá-la. Está por isso de parabéns a organização do festival, e só é pena que estas iniciativas não sejam em maior número.  Voltar ao Topo

 

 

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