At-Tambur.com - Músicas do Mundo

Como anunciar aqui?

Notícias

Canais: Principal | At-Tambur | Notícias | Curtas! | Recolhas | Instrumentos | Dança | Outros Sons | Internet | Grupos Musicais | Agenda

Principal > Notícias > Notícia


Oficina de Viola Campaniça

Oficina de Concertina

Oficina de Adufe

Oficina de Canto

ToniDasGaitas.gif (34907 bytes)
Oficina de Gaita de Foles

Oficina de Gaita de Foles

pedrinhas.gif (40523 bytes)
Actuação Informal (Pedrinhas de Arronches)

pedrinhas1.gif (46315 bytes)
Actuação Informal (Pedrinhas de Arronches)

Crónica
Os próximos compassos...
I Encontro de Tocadores Tradicionais

Nisa, dias 3, 4 e 5 de Maio de 2002
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Foram três dias frenéticos em Nisa, cheios de músicos de várias gerações - uns ligados a importantes grupos musicais, outros ligados às associações e entidades que estudam e divulgam a música tradicional portuguesa. Nasceu mais de que uma ideia e a música saíu a ganhar.

José Miguel
Foi a partir do Andanças do ano passado que, em animadas conversas, muitos se íam confrontando com um dilema: porque é que há tanta gente nova interessada nas músicas tradicionais e tão poucos sabem realmente interpretar o nosso repertório e os nossos instrumentos?

Aliás, essa dúvida já assaltava muitas pessoas, levando quase sempre a acesas lamentações por parte de muitos músicos, alguns deles com projectos fundamentais na nossa história musical recente. A conclusão era cada vez mais a mesma: há uma nova geração, que toca djembees, didjeridoos, darbukas, bouzukis, e tudo mais. Tudo mais, menos: adufes, campaniças, bombos, caixas...

A verdade a partir daí constatada, foi de que não existe uma verdade absoluta que explique isto. Mas é verdade, também, que as novas gerações assentaram no mundo des-regulamentado dos djembees - em contraposição ao outro lado cheio de regras: o dos adufes, das gaitas e dos bombos. Talvez seja o receio do raspanete "isso não se toca assim" que levasse muitos a ir por outros caminhos.

Um urbano, tocador de adufe, gaita ou cavaquinho acaba por ser detentor de um dos segredos mais bem guardados da história recente da música popular portuguesa. Este queixa-se que ninguém quer aprender e aqueles que querem aprender queixam-se que não há ninguém para ensinar. Entre queixas e lamentos, as tradições populares portuguesas, associadas aos instrumentos tradicionais portugueses, foram ficando esquecidas. Isto para não falar dos velhos tocadores, que haviam - muitas vezes - pendurado as suas braguesas, gaitas ou campaniças, cedendo espaço ao acordeão do rancho da aldeia, que acabava por domar a festa.

Um certo complexo cresceu e durou ao longo de vários anos. Todas as gerações vindouras, ao pegarem num instrumento tradicional português, não só não sabiam como é que se tocava, como também acabavam por ter receio de ofender as gravações do Giacometti ou do Ernesto Veiga de Oliveira, na sua pureza intacta - algo que o regime de Salazar já havia profanado e ridicularizado com alguns ranchos folclóricos, uniformizados estetica e musicalmente com as cores do regime.

Eis então que as percussões portuguesas ganharam uma adesão juvenil nunca antes vista, por mão de iniciativas como os Tocá Rufar - um projecto que também inspirou outras formações de caixas populares, bombos e timbalões. Na nossa história recente, surgiu também um especial interesse pela gaita de foles, que acaba por iniciar o levantamento deste cerco da inacessibilidade aos músicos e aos instrumentos portugueses. Neste caso, antes de se constituirem associações especificamente dedicadas às gaitas, já alguns tinham ido à vizinha Galiza buscar os ensinamentos essenciais para re-começar.

Só que, os galegos ou os franceses não tocam braguesas, campaniças ou adufes; não têm canto polifónico como nós; nem sequer tocam bombos ou caixas como nós fazemos. Em suma, não podemos re-aprender com eles a tocar todas estas coisas. Muito provavelmente, temos de aprender sozinhos tudo o que não sabemos sobre a nossa gaita transmontana. Aprender muitas coisas que as gravações antigas e as partituras só conseguem contar parcialmente.

É aqui que surge a ideia de juntar os músicos tradicinais das aldeias, os músicos tradicionais das cidades, os investigadores e os construtores de instrumentos. Velhos e novos, profissionais e amadores, na expectativa de transmitir e de receber aquilo que se perdeu no tempo: a transmissão oral de conhecimentos - a forma ancestral de transmissão, de geração em geração, dos saberes sobre os instrumentos, repertórios e formas de os interpretar.

A ideia de um encontro de tocadores foi, assim, ganhando forma e reunindo à sua volta vários valores outrora dispersos, todos eles resultantes de valências criadas por entidades culturais que já vinham a cooperar entre si pontualmente, ou até nem por isso.

Uns são especializados em instrumentos musicais específicos, outros nas danças tradicionais, outros na comunicação, outros no desenvolvimento regional integrado, outros ainda na promoção e produção cultural. Associações também dispersas geograficamente pelo país (Castro Verde, Évora, Lisboa, Águeda, Castelo de Vide) que acabam por gerir uma boa parte das operações de preparação do evento a partir de um fórum na Internet, por e-mail e por telefone.

Muitos e importantes passos foram, então, dados neste encontro. Desde da realização de uma mostra de construtores de instrumentos, instalada num espaço onde era também possível assistir a vários filmes de recolhas (oriundos do Museu de Etnologia); bem como ter acesso a algumas relíquias discográficas e outras recentemente editadas.

Afinal de contas, este primeiro Encontro de Tocadores Tradicionais atingiu plenamente os objectivos para que se propunha: reunir velhos e novos tocadores, juntar projectos artísticos e projectos de investigação, promotores locais e associações culturais; e com isso criar uma plataforma de partilha de conhecimento; ou se quisermos uma dinâmica que permita criar essa plataforma.

Por isso mesmo, não tenhamos ilusões. Há muito por fazer. A cultura popular portuguesa, neste caso a interpretação da música tradicional, precisa de uma escola - de ensino de instrumentos, de ensino de construção, de investigação e de recuperação deste legado. É necessário reunir projectos associativos às iniciativas científicas, de investigação, que permitam interpretar aquilo que foi e ainda é recolhido por esse país fora.

Em todo o caso, é unânime - entre todos - de que se fez história, durante o fim de semana de 3, 4 e 5 de Maio de 2002. Deram-se ouvidos aos primeiros compassos de uma história musical, que pode vir a colocar a música tradicional portuguesa numa nova era, nas mãos das pessoas que lhe garanta um futuro: artístico, científico e, sobretudo, lúdico. Voltar ao Topo

 

Canais: At-Tambur | Notícias | Curtas! | Recolhas | Instrumentos | Dança | Outros Sons | Internet | Grupos Musicais | Agenda

Newsletter | Fórum | Chat | Pesquisas | Contactos | Publicidade | Quem somos

.....................................................