Brasil
Nicanor Teixeira por
EGBERTO GISMONTI, GUINGA, TURÍBIO SANTOS, GALO PRETO, MARIA HARO & 18 Grandes
IntérpretesNo dia em que for escrito um livro sobre a
História universal do violão, um capítulo à parte deve ser dedicado ao violão
brasileiro. Foi o violão que ajudou a criar as obras-primas de Chico Buarque, Dorival
Caymmi, João Bosco, Cartola, Nélson Cavaquinho, Noel Rosa e uma infinidade de outros.
Sem dúvida nenhuma, ao lado desses nomes está Nicanor Teixeira, um compositor muito
respeitado por todos os que se dedicam ao estudo do violão e possuidor de uma enorme
obra, reconhecida internacionalmente pela sua importância, consistência, criatividade,
beleza e ainda "brasilidade".
Também um investigador, as suas peças abrangem uma imensa variedade dos
géneros brasileiros: lundus, batuques, cateretês, ponteios, choros, sambas, valsas,
modinhas, temas nordestinos, baiões, frevos, etc. Estudar, tocar e ouvir a música de
Nicanor Teixeira é mergulhar nas riquezas da cultura brasileira.
Durante os três meses de gravação das músicas de Nicanor Teixeira passaram
pelos estúdios da Blue Light, pilotado pelo Alexandre Freitas, nada menos que 28
músicos, dos quais 21 violonistas. Cada um com seu estilo, sua formação, seu toque, sua
emoção. Cada dia de gravação foi especial, alguns dos quais nunca mais serão
esquecidos...
A 14 de janeiro de 2001, João Rabello de Faria e Alexandre Gismonti - 16 anos
cada um - são os convidados para gravar o Cateretê das Farinhas e a valsa Velha
Lembrança, respectivamente. João é filho de Paulinho da Viola, sobrinho de Raphael e
neto de César. O seu pai vai buscá-lo ao final do dia e ao ouvir o resultado, entre
surpreso e orgulhoso, comenta: Nicanor, sua música não vai morrer nunca.
Quase ao mesmo tempo toca o telefone. É o Egberto chamando o Nicanor para elogiar a
qualidade e a beleza da valsa que o seu filho tocara, propondo-se a tocar também. É mais
um sinal de que este é um disco para ficar na história.
A 22 de janeiro, Nicanor completa 50 anos de Rio de Janeiro. Turíbio Santos
grava o choro Carioca 1 com toda a sua elegância e sabedoria. Chega o Guinga. A Canção
Terna foi escolhida a dedo para ele. No meio dos preparativos da gravação, procurando um
melhor posicionamento dos microfones, Guinga aquecendo os dedos, para por um momento de
tocar a canção e diz: Agora, bateu!. E chora de emoção. Naquele momento,
com certeza passou pela sua cabeça toda a beleza da história que tem o violão
brasileiro. A história de Quincas Laranjeiras que ensinou a Levino da Conceição que
ensinou a Dilermando Reis que ensinou a Nicanor e a Jodacil, que ensinou a Turíbio, a
Guinga e ao Léo, que ensinou a Maria, Farina, Luiz Otávio, Llerena, Nicholas, Graça,
Vera, Cláudio, Nélson, Luciana, Ferrer, Filipe, Chuang e a Bartholomeu, que ensinou a
João e Alexandre. Quatro gerações do violão brasileiro participam deste disco. Tudo
sob as benção e o olhar atento e feliz do mestre Nicanor, do alto dos seus setenta anos.
Nicanor Teixeira Nasceu em 1928 na cidade da Barra, na época um lugarejo com 25
casas, situada na bacia do rio São Francisco, alto sertão da Bahia. Foi para o Rio de
Janeiro em 1948. Durante quatro anos teve aulas com Dilermando Reis, com quem aprendeu
leitura e escrita musical, além da técnica violonística. Passou então a conviver com
músicos, como Oscar Cáceres e Jodacil Damaceno, e fez diversos cursos de música,
estudando harmonia e se aperfeiçoando no violão. Participou de programas de rádio
(Nacional, Roquete Pinto, etc.), além de actuar em inúmeros concertos. Hoje em dia, seu
repertório como compositor é considerável e suas músicas já foram gravadas por
Sebastião Tapajós, Turíbio Santos, Waltel Blanco, Cláudio Tupinambá, Bartholomeu
Wiese e Afonso Machado.
Nicanor Teixeira
representa para o violão brasileiro a síntese exata de uma erudição musical aliada à
mais pura tradição popular do violão no Brasil. Seu virtuosismo como intérprete lhe
permite, seguindo o exemplo de Agustin Barrios e João Pernambuco, uma grande liberdade de
criação em seu instrumento. A sua obra tanto interessa ao estudante de violão como ao
concertista, pela riqueza técnica e inventiva musical. Turíbio
Santos (Paris, novembro de 1977).
Quatro gerações do violão
brasileiro participam deste disco. Tudo sob as bênçãos e o olhar atento e feliz do
mestre Nicanor, do alto dos seus setenta anos. Afonso Machado
Nicanor, sua música não vai
morrer nunca. Paulinho da Viola