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Cholas y Polainas: 2.Muifieira Ãngelo Arribas: 3.Moda
detamborileiro Gaiteiros de Freixenosa: 4.As Voltinhas do Marão Alberto Jambrina Leal e Outros: 5.Molinera Paulo
Marinho e Mercedes Priêto: 6.Jota de Rio
deOnor Gaiteiros de Urrós: 7.Alvorada Antiga 8.Vira Habas Verdes: 9.Jotas/Habas Verdes de Sanabria Gaitafolia: 10.Ronda de Vinhais
11.Repasseado
Gueiteiros de Ia Raia: 12.Rapsódia 13.Repasseado de Ia
Pruôba Grupo Instrumental de Constantim: 14.Bela Aurora 15.Rebola a Bola Célio Pires: 16..Moda de
Tamborileiro Aulas de Música de Aliste y
Trás-os-Montes: 17.Vais Rui João Pires c/ Galandum
Galundaina: 18.Repasseado Galandum Galundaina: 19.Repasseado Rui João Pires c/
Galandum Galundaina: 20.Campanicas de Toledo
Gravação: 16 de Janeiro de 1999
(Salão da Casa de Povo/Póvoa/Miranda do Douro)
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Dossier Sons da Terrra
Fiêsta de la Gaita de FuôlhesPara além da Memória Emotiva
Foi muito bonita a festa: num indescritível ambiente de convívio, com
inexcedível adesão das gentes da terra, viveram-se momentos de autêntica celebração
comunitária. Da Terra de Miranda marcaram presença muitos Locadores e das vizinhas
terras leonesas fez-se questão em garantir a continuidade de um diálogo de seculares
origens. E outros, de mais longe, não perderam a oportunidade para viverem o sortilégio
da festa em Pruôba, terra de grandes tradições musicais.
Em nome da tradição, os velhos gaiteiros fizeram chegar até aos nossos dias
um repertório que faz parte integrante de todo um património cultural que se quer seiva
de identidade, exigindo esforços de preservação e de divulgação que contribuam para a
sua valorização. Um mandato de inequívoca importância cultural que foi
entusiasticamente assumido por Valdemar Gonçalves e Domingos Raposo, a cujo empenhamento
e dedicação se ficou a dever a realização da "Fiêsta de Ia Gaita de
Fuõlhes", em homenagem. aos grandes Locadores da terra que foram Delfim Domingues,
Paulino João e Paulino Raposo.
Instrumentos tradicionalmente saídos das mãos habilidosas de pastores que enganavam a
solidão das longas horas de pastoreio modelando o anguelgue, o freixo ou o buxo, as
gaitas de foles mirandesas faziam as delícias das gentes das aldeias que despertavam com
alvoradas para uma festa que tinham ajudado a concretizar participando nos respectivos
peditórios com rondas e passacalhes. Uma festa com as gaitas de foles não raro se
fazendo ouvir nos espaços sagrados e acompanhando as procissões, logo mais animando
bailes nos terreiros, para delícia dos mais novos e saudade dos mais velhos.
Emergindo da mais ancestral tradição musical mirandesa e apesar do modo como essa
tradição tem vindo a ser afectada pelas profundas alterações da vida das gentes das
comunidades rurais, a gaita de foles permanece veículo particularmente adequado de
expressão mais autêntica da alma cultural mirandesa: das suas entranhas continua a
dimanar e a revelar um mistério de raizes que é essência de identidade telúrica, de
tal modo que, na Terra de Miranda, quase a podemos ouvir mesmo quando ninguém a está a
tocar!...
Em Pruôba, na "Fiêsta de Ia Gaita de Fuôlhes", foram apresentados os novos
gaiteiros da terra, os jovens David Miguei Preto Falcão e Domingos Marques João. A
incipiência das suas interpretações dos clássicos Re Piu Piu e Campanicas de Toledo
(com execuções de tal maneira nervosas que achamos por bem não as documentar neste
registo testemunhal) não chegou, porém, para frustrar as mais legítimas expectativas de
quem espera que sejam capazes de trabalhar para poderem assegurar a continuidade
expressiva do popular instrumento na sua terra. Num tempo de novos contextos/funções
para a música tradicional saída das gaitas de foles mirandesas, para estes jovens
gaiteiros se deseja a persistência e a proa dos velhos gaiteiros da Terra de Miranda.
As condições acústicas do salão da Casa de Povo de Póvoa eram de tal modo adversas e
de todo intransponíveis que o José Manuel Almeida antecipou o que seria a gravação do
evento: um registo para arquivar. E as longas horas de (algum) desespero e de (muita)
frustração por ele dispendidas não tornaram possível o milagre de fazer sair da fita o
que lá não estava (nem podia estar!...). Mas...
Mas a excelência significante da festa, no entanto, impunha e exigia o testemunho
discográfico possível, porventura arriscando para além dos limites do razoável, mesmo
tratando-se de um trabalho com preocupações documentais. Tendo em conta tais
condições, entenda-se, pois, esta obra como um registo testemunhal de uma festa
singularmente única. E porque há uma memória do passado (raiz vital de uma cultura e de
uma identidade) e há uma memória do presente (de enraizados evocações, não raro uma
espécie de procura de um tempo suspenso que se quer, de novo e sempre, dimensão real com
horizontes de futuro), esta "Fiêsta de Ia Gaita de Fuôlhes", que já faz parte
de um presente transformado em tradição, sem este registo testemunhal seria apenas uma
memória emotiva. O que seria pouco. Muito pouco. Irremediavelmente muito pouco. Mário Correia
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